Aquele barulho irritante mais uma vez. Era como se tivesse batido a cabeça muito forte, ou algo assim. Meus olhos doeram com a luz excessivamente branca do quarto do hospital. Demorou até minha visão ficar nítida e eu poder tentar me sentar, a lutar contra a tontura. Arranquei as agulhas dos meus braços e máscara de respiração. Ainda tentava lembrar o motivo de estar ali daquela vez. Sem sucesso.
Fiz o esforço, quase um sacrifício, para levantar, apoiando-me nas paredes. Senti um vento gelado vindo de fora e notei um pequeno pássaro branco pousado na janela. "Você de novo...?", murmurei com uma voz fraca. Em seguida senti a dor percorrer por minhas costas. A dor me era familiar, nostálgica.
Com muito cuidado, fui caminhando até o que presumi ser o banheiro do quarto, sem fazer muitos movimentos bruscos, tudo doía muito. Finalmente atravessei a porta e pude me olhar no espelho. Deslumbrei a visão das enormes asas que cresciam. Elas me assustavam. Uma figura que se escondia na silhueta delas apareceu. Uma mulher que encarei pelo reflexo do espelho, com os mesmos olhos que os meus. "Mãe..."
De novo. Não me lembro de nada. Só do vidro se quebrando e dos gritos dos enfermeiros.

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